FRANKLIN TAVARES - JORNALISTA (10 ANOS) E PROFESSOR UNIVERSITÁRIO (3 ANOS)
"A primeira coisa que você precisa saber, é se antenar com seus alunos, seus discípulos, aqueles a quem você vai comungar a experiência".
Jiló: As críticas percebidas aina no período de formação do profissional na universidade, podem ser resultados negativos no futuro desses estudantes?
Franklin Tavares: Depende da crítica, se o professor for exigente, prepotente, com certeza. Mas eu vou falar do professor Franklin Tavares. Sempre na minha primeira aula eu digo para os meus alunos o seguinte: "eu confio ê acredito na capacidade de vocês". Mas faço sempre a ressalva; "se vocês não acreditarem na capacidade, não adianta eu acreditar. Vocês tem que primeiro acreditar em vocês, para então passar essa confiança e seguir em frente. Claro que ninguém gosta de ser maltratado, ninguém gosta de lidar com o prepotente. O prepotente só vê a própria verdade. E quando agente tem infelizmente um professor prepotente, ele não é um bom professor, não é um bom mestre, pode ser um excelente profissional, ele pode saber muito, mas pra ele. A primeira coisa que você precisa saber, é se antenar com seus alunos, seus discípulos, aqueles a quem você vai comungar a experiência. Porque o professor vai, nada mais, nada menos comungar a experiências e conhecimentos que ele tem um pouco a mais e discutir essas experiências com seus alunos, ele é humano, ele erra, e se ele erra, ele tem que entender que seus alunos por não serem maduros e estarem ainda verdes, vão errar também. Eles não podem ser tratdos com prepotência e aspereza. Eu acho que o profissional de magistério, especialmente nessa área de comunicação onde o aluno tem que ser liberado, tem que ser encorajado, a ter coragem de perguntar e investigar, se ele for reprimido nós estamos criando um problema muito sério com esse jovem no futuro, desenvolver uma técnica na profissão.
O que diferencia o bom profissional do mal profissional? Aquele que aprendeu que se comunicar não é com pedra, nem com poste, é com outros seres.
Jiló: O que diferencia o bom profissional do mal profissional?
FT: O preguiçoso, o que fica esperando que a notícia lhe caia no colo, o que acredita na primeira verdade que lhe aparece, o mentiroso, aquele que aceita qualquer coisa para construir uma verdade, o factual, o construtor de notícia, o construtor de fatos, aquele que acredita que vale tudo em prol da construção da notícia e obviamente o manipulador. E o egoísta, aquele que aprendeu que se comunicar não é com pedra, nem com poste, é com outros seres. Essa comunicação tem que existir primeiro entre iguais, então eu vou depender geralmente de equipe e eu tenho que confiar na equipe, sendo o líder ou sendo comandado, eu tenho que confiar nos meus iguais, pra só então construir a notícia. Aí se reconhece um bom profissional.
Os cinco requisitos vão ficar basicamente em um só, confiar em si mesmo
Jiló: Cinco requisitos que um jornalista deve ter.
FT: Os cinco requisitos vão ficar basicamente em um só, confiar em si mesmo. O segundo, coragem. Terceiro, saber lidar com o fator ético. Quarto, desde os tempos de estudante, saber contruir a sua pirâmide de fontes, desde a mais importante no seu cume, no sentido que ser fonte confiável até a base onde você vai filtrar "o que você poderá utilizar". E quinta, confiar no seu taco, que é o mais importante.
"A mídia moderna tem que tomar cuidado com tantas verdades voando no cyberespaço, sem averiguar se aquilo é verídico, ou se é sustentável como notícia"
Jiló: O que você diria aos estudantes que estão saindo da faculdade ainda inseguros e nervosos com a carreira?
FT: Que construam a carreira, que não esperem, que construam para si. Não existe só rede globo, rede record, a mídia está aberta, hoje em dia você pode ser jornalista, você pode ser fotojornalista, você tem a web, você tem o novo jornalista da moda que é o celular, que você pode vender notícias para essas empresas. Isso vai precisar de jornalistas, é uma nova mídia que está surgindo. O blogger é uma nova mídia que está concorrendo com as grandes redes, as próprias grandes redes de notícia, estão sendo obrigadas a contratar blogueiros, que já é uma especialização você ser blogueiro para dinamizar a discussão sobre determinados fatos. A mídia digital está abrindo novos horizontes e isso é muito bom, porque você tendo lap top hoje em dia com 3g, uma câmera digital, não precisa ser nem de grande potência, você é uma mídia ambulante. Um exemplo: eu estava na linha amarela outro dia, vejo uma fumaça, trânsito ruim, eu vejo um carro pegando fogo e um cara sentado na murada, parei meu carro mais a frente e perguntei se ele estava precisando de alguma coisa, ele falou : "não, o carro tá pegando fogo, não tem mais jeito, está no seguro" e eu falei: "posso fotografar?", "pode" , e eu fotografei pegando fogo, peguei um ângulo engraçado dele sentado com a mão no queixo, ele pensando, o homem de rodan e vendi a foto. Imediatamente fui para o meu carro, o lap top, passei a mensagem para a agência de notícia e a agência de notícia vendeu, e óbvio passei para um amigo meu de determinada rádio e ele avisou, "olha, atenção". Quer dizer, o celular como uma fonte de mídia auxiliar. A mídia está dinâmica. Mas também a gente não pode se entusiasmar demais, sem ver os riscos que essa nova tecnologia está trazendo. Qual é o risco? São as várias verdades que estão surgindo, para um só fato estão tendo dez, vinte versões. Como também está se construindo por uma questão de economia uma verdade só para um só fato. Então você vê notícias que não são desmentidas e são mentiras e depois é dado uma notícia em cima daquela, desmentindo a anterior. E eu acho que a mídia moderna tem que tomar cuidado com tantas verdades voando no cyberespaço, sem averiguar se aquilo é verídico, ou se é sustentável como notícia.
"O futuro já passou".
Jiló: Veículos querendo cada vez mais profissionais multimídia, estão demitindo motoristas, para colocarem em seus lugares jornalistas, redações mais enxutas, como você analisa esse quadro do jornalista atual?
FT: Primeiro tem que se ver que essa é uma consequência normal da própria evolução. Eu uso os meus exemplos, eu digo "jornalista precisa aprender a bater fotografia, então você deixa de ser jornalista para ser fotojornalista. Hoje você já é midiman. O que é o homem de mídia? Você precisa entender de escrever, você tem que saber escrever, você tem que ter uma grande cultura, você precisa ler bastante e se informar bastante, de tudo a par de todas as novidades. Eu tenho que entender de web, dos novos programas que estão surgindo de office, a manipulação de fotografia, logo se entende que eu tenho que saber fotografar, eu tenho que vender o produto completo e tenho que saber dirigir, e de preferência moto, por causa da agilidade. Então não é surpresa que se demita um motorista e o substitua. E no jornalismo eu tenho que saber dirigir, eu tenho que saber andar de moto, eu tenho que saber andar em cima de um cavalo, porque muitas vezes nem o carro, nem a moto vão saber chegar ao lugar e eu vou precisar saber montar um cavalo, um jegue, um jumento, para saber chegar àquele lugar. Terei que saber manipular uma máquina digital qualquer que seja, terei que saber entrar em contato com a web, com o lap top, cada vez menor, eu precisarei saber trabalhar com essa tecnologia. Então eu sou motorista, sou motociclista, sou cavaleiro, fotógrafo, jornalista e digitador. Isso me diminuiu em alguma coisa ou aumentou os meus conhecimentos? E tenho que saber escrever para jornal,escrever para webdominário que são revistas semanais, para mídia cibernética e para a mídia telefônica.Celular também virou mídia.E com a nanotecnologia que está surgindo aí agora, que são os microrôbos que você não enxerga, serão também utilizados na mídia.Isso eu tenho a máxima certeza,não tenho dúvidas.Será utilizado na mídia a nanotecnologia.O futuro já passou.No sentido de informação nós crescemos muito em tecnologia mas também nós trazemos vários perigos com essa verdade imposta,a verdade imediata,a verdade sem averiguação,a notícia pela notícia e não anotícia pelo fato verdadeiro.
"Ninguém nasce sabendo.Você adquire, apreende conhecimento dos outros".
Jiló: Qual seria o conselho de um jornalista experiente como você para os estudantes?
FT: Prática.Não esperar, começar por si só.Se você já tem essa tecnologia toda ao seu favor,se você tem um computador em casa, se você tem uma máquina digital,se você tem um mp4,mp5,mp7,um ipod você já é um jornalista,só te falta o diploma agora.Você estará sempre preso a primeira coisa,você precisa ter conhecimento,você precisa ter leitura isso não há como escapar,porque somente a leitura vai te dar capacidade da criação .Ninguém nasce sabendo.Você adquire, apreende conhecimento dos outros.Por isso, a gente volta aquela pergunta inicial,eu não posso ser áspero,nem prepotente com os meus alunos eu tenho que passar a eles o dom da confiança nele mesmo e mostrar a ele principalmente que ainda há lugar, por exemplo, para o senso ético e que ele é o homem mídia,ele vai construir a própria mídia.Ele faz parte não de uma máquina,mas de um desenvolvimento,de uma profissão.Do novo jornalista dessa nova visão.O jornalista que muitas vezes não bebe,não fuma e tem profundo conhecimento tecnológico.Aquele jornalista de antigamente com tiquetizinho preso no chapéu já foi enterrado,pena,porque dele de bom sobrou o estilo investigativo.E isso precisa ser retomado.Nós precisamos retomar o sentido da investigação.A tecnologia deixa o jornalista preguiçoso,ele tem a notícia pronta,ele só tem que adequar ao perfil do veículo dele.E cada vez mais surpreende quando um jornalista diz que passou três meses em cima de um caminhão para descobrir o Brasil do interior.Se a gente for ver que em 1950 já se fazia isso, a gente fica surpreso de ver quanto foi investido financeiramente mas a gente não se dá conta que o investimento financeiro não é nada perto da evolução do conhecimento do nosso próprio país.Que apesar de toda tecnologia ainda reclama que não se sabe o que acontece fora daquele quadrante.
Matéria: Rodrigo Alegrette e Vanessa Antunes
Maravilhosa matéria, a entrevista muito bem elaborada e com um professor e jornalista maravilhoso.
ResponderExcluirPARABENS!!!