Raphael Leal Perret, 30 anos, e como ele mesmo se intitula: jornalista, de formação, vocação e coração. Além de jornalista, Perret é mestre em informática, com experiência em jornais, sites e órgãos da administração pública. Pesquisador de comunicação online, estudioso da convergência entre jornalismo e internet, tema factualmente abordado em seu blog Butuca Ligada. Atualmente Raphael divide seu tempo entre pesquisas, postagens em seu blog e no site Jornalistas da Web (onde é um dos editores) e dando aulas no curso de pós-graduação em comunicação nas disciplinas sobre conteúdo gerado pelo usuário e redes sociais.
JILÓ PRESS - Quando se fala em novas tecnologias somos levados automaticamente a pensar em crise no jornalismo impresso. Essa crise, representa o fim de tudo ou uma nova oportunidade ao jornalismo?
RP - Uma nova oportunidade. Na verdade, o jornalismo em si não vai mudar muito. Continuará sendo pauta, apuração e redação. O que muda são as ferramentas que estão à disposição. Fotografar, filmar, gravar som passarão a ser atividades mais corriqueiras. O que também muda é a forma de se fazer à notícia. A velocidade da informação, no mundo atual, faz com que os jornais procurem maneiras alternativas de trazer uma matéria. Não pode mais publicar "Avião da Air France desaparece". Isso é sabido por todo mundo na manhã do dia seguinte. É preciso trazer análise, reflexão, pluralidade de pontos de vista. O jornalismo impresso precisa se tornar mais analítico. Os fatos e as informações já estão horas antes, na internet, na TV e no rádio.
JILÓ - Você acredita ser bom à abundância de agências de notícias, sites "informativos", essas facilidades de acesso às fontes vêm afetando a alma do jornalismo e por isso todos agora são ‘jornalistas’?
RP - Não diria que todos são jornalistas, mas sim produtores de informação. E isso é bom, pois tira das mãos de poucas empresas o monopólio deste processo. É claro que isso traz muitas informações que jamais conseguiríamos obter no modelo tradicional. Mas também há muito despreparo no tratamento das informações: as pessoas não checam, escrevem mal, trazem informações irrelevantes. Isto abre espaço a mais um novo papel do jornalista: o de trabalhar melhor a informação, de intermediar esse processo dando-lhe uma cara mais profissional. Não estou dizendo que todo mundo que produz informação precisa ter um jornalista do lado. Há muito blogueiro, autor de site que escreve bem, checa e traz notícias e pontos de vista bem bacana. Mas há casos em que a participação do jornalista pode ser fundamental.
"O jornalismo impresso precisa se tornar mais analítico. Os fatos e as informações já estão horas antes, na internet, na TV e no rádio".
JILÓ – Mas se todos podem se tornar distribuidores de informação, qual o futuro dos jornalistas?
RP – Simples, cabe ao jornalista ajudar no processamento de tanta informação, e contribuir
com um perfil mais analítico, integrando ao fato mais objetivo uma interpretação que ajude na compreensão da informação e nas suas consequências.
"O domínio das ferramentas tecnológicas em conjunto com a capacidade de elaboração de um pensamento crítico de consistência, fará a diferença entre o jornalista e as pessoas comuns que estarão distribuindo informação".
JILÓ – Em relação ao atual cenário onde a internet predomina, ter domínio sobre as novas tecnologias é fundamental para o exercício do jornalismo?
RP - Sem dúvida. Mas, mais fundamental ainda é o poder de apuração, de detectar boas pautas, de escrever bem, de contar uma boa história. Enfim, os critérios essenciais para um bom jornalista. Se o indivíduo domina estes atributos, não será a eventual dificuldade com a
tecnologia que o fará ser um mau profissional. Agora, dominá-la e conhecer as mudanças que a tecnologia trouxe ajudará bastante.
JILÓ - Como você vê o futuro do jornalismo impresso na era das novas tecnologias?
RP – O domínio das ferramentas tecnológicas em conjunto com a capacidade de elaboração de um pensamento crítico de consistência, fará a diferença entre o jornalista e as pessoas comuns que estarão distribuindo informação. Se o jornalismo não souber equilibrar o uso técnico com o uso reflexivo, ele estará fadado ao fracasso e à desmoralização.
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