As novas tecnologias estão transformando a forma como nos comunicamos no mundo, porém, é preciso rever como estamos aproveitando este novo momento da comunicação, no qual o acesso às informações foi otimizado através da mediação proporcionada pelas ferramentas da web 2.0: Orkut, Youtube e, claro Twitter, dentre outras. As pesquisas sobre as técnicas e linguagens para site ainda são novas, mas, o brasileiro Bruno Rodrigues já vislumbrava, no fim do século passado, o surgimento de um novo profissional: o webwriter.
Segundo Bruno, o termo “webwriting” não pode ser compreendido como redação on line, e sim como gestão da informação, ou seja, a capacidade de disponibilizá-la entre as várias camadas de site e em diversos formatos (vídeo, áudio e flashes, por exemplo). Esta atividade estaria ligada à persuasão do usuário, para que este continue sua navegação pelo site.
Pioneiro de webwriting no Brasil, Bruno Rodrigues viu sua vida mudar a partir de 1995, após começar a pesquisar sobre a forma como os textos em site eram escritos. Percebendo a necessidade de uma nova forma de linguagem que atendesse ao usuário de internet, tornou-se uma referência para profissionais da área de comunicação, informática e marketing.
Nesta época, a Petrobras procurava um profissional capacitado para gerenciar a reformulação do conteúdo de seu site. Bruno teve seu nome indicado e, até hoje, atua naquela empresa como consultor digital.
Pesquisador da área e com artigos publicados em sua coluna na revista digital Webworld, Bruno, publicou o livro Webwriting – Redação e Informação para a web, a primeira obra em língua portuguesa e a terceira no mundo sobre redação e informação para web. E não parou por aí: em 2006, publicou a segunda edição de Webwriting, em edição revista e atualizada, que trata sobre os tipos de informação disponíveis na internet. Atualmente, ele escreve para a Webinsider, para a Revista 'WebDesign, para o site Jornalistas da Web e para o seu blog Cebol@. Para obter mais informações sobre esta nova tendência do jornalismo on line, o Jiló Campus realizou uma entrevista com Bruno Rodrigues.
BRUNO RODRIGUES: Comunicação é como se fosse um caldeirão onde você vai acrescentando um monte de coisas ao longo de décadas. Cada mídia vai acrescentando alguma coisa no que diz respeito à informação. Em 2000, eu já trabalhava há cinco anos com o que já começavam a chamar de mídia digital. Então, como eu já escrevia uma coluna mensal sobre esse assunto há quase dois anos, achei que estava na hora de escrever um livro mesmo. Agora o porquê da pesquisa tem tudo a ver com a coluna, que era o resultado das minhas pesquisas anteriores e das minhas opiniões sobre este universo de informações que é a mídia digital. Eu sentia que aquilo era uma coisa nova que com certeza iria modificar a área da Comunicação, aliás, já estava modificando. Quando comecei a escrever o livro em 1999, eu sentia que a internet tinha chegado pra ficar, coisa que, em 1995, ninguém sabia se ia ou não dar certo. Nesta época, muita gente acreditava que a internet era uma novidade que, como tantas outras, não iria adiante, o que, de fato, não aconteceu. Como a internet já estava ficando sólida, eu vi que já dava pra fundamentar o que eu já havia pesquisado. Foi uma surpresa muito grande, pois eu comecei a escrever coluna estruturando a minha opinião e a pesquisa que eu tinha e acabei recebendo um retorno muito bom. Pessoas do país inteiro me enviavam e-mails perguntando o que era webwriter. E por conta disso, percebi que já estava na hora de começar escrever um livro.
JILÓ: E não existia nenhuma publicação até então sobre isso?
BR: Nenhum tipo de publicação. Somente depois outras pessoas começaram a analisar e pesquisar para ver o que realmente era. Ser um webwriter é mais do que escrever para a web, mas todo mundo associa o termo webwriter à redação para a web. Hoje em dia não é mais isso porém, nos anos 2000, 2001, você poderia dizer que era uma escrita feita de uma maneira nova, para a mídia digital. A convergência de mídias demorou alguns anos para acontecer, esta coisa de você acessar a web e ter todos os formatos (áudio, vídeo, animação e texto). Então, ser webwriter hoje em dia é você saber lidar com estes vários formatos de informação e saber como distribuir esta informação ao longo das telas.
“Os jornalistas estão caindo na mesma armadilha de cinquenta anos atrás, que é conectar a atividade jornalística à técnica de forma exagerada. O jornalismo é mais que isso”
JILÓ: Como você lida com estas novas ferramentas?
BR: Qualquer tecnologia de comunicação é mais um degrau dentro de uma escadaria maior chamada Comunicação. Acho um erro encarar cada um desses degraus como se fosse um degrau definitivo. Não é por ser uma escadaria que os degraus que ficam para trás devam ser simplesmente ultrapassados, desprezados. Acho que qualquer coisa que acontece dentro da tecnologia da comunicação não é revolução, mas uma evolução. Existe um perigo na tecnologia da comunicação que é você desconhecer às vezes porque as coisas são feitas, as ferramentas existem para serem usadas, mas sem exagero. A energia nuclear, por exemplo, pode ser usada para iluminar uma metrópole ou destruir um país inteiro. Então, não é só a tecnologia pela tecnologia, e o que falta um pouco no mercado digital é esta visão crítica: não olhar a tecnologia deslumbrado o tempo todo.
JILÓ: E seria esta a razão da resistência por parte de tantos profissionais em relação ao jornalismo on line?
BR: Resistência ao jornalismo on line era um assunto que tinha um pouco de mérito há uns três anos atrás. O que acontece hoje é que os jornalistas estão de um lado e as empresas jornalísticas de outro, no sentido de que estas empresas estão passando por um tormento muito grande. Eu acredito que os jornais impressos não vão acabar em 2010 ou 2015, mas não sei se em 2060 a regra vai ser o jornal impresso, mas talvez em 2100 o último jornal impresso saia da face do planeta.
JILÓ: Mas alguns jornais já fecharam as suas redações tradicionais para manter somente o conteúdo on line.
BR: Eu acredito que o que mudou um pouco de uns três anos para cá. Foi que alguns jornalistas perceberam que o jornalismo está acima da mídia, sendo uma atividade que é maior que o digital ou o impresso. Esta concepção ficou abandonada durante muito tempo. Agora, devido ao que está acontecendo com os impressos, os jornalistas estão começando a voltar a entender o que é jornalismo.
“Existe um perigo na tecnologia da comunicação que é você desconhecer porque as coisas são feitas, as ferramentas existem para serem usadas, mas sem exagero"
BR: O mercado oferece muitas possibilidades. Você pode trabalhar num portal, numa intranet de empresa. O importante é que os profissionais comecem a olhar isso com um pouco de interesse, deixando um pouco de lado aquela ideia romântica de atuar em redação, rádio, televisão e revista.
JILÓ: Então, para você, o jornalismo está sofrendo mudanças decorrentes das novas tecnologias. Dentro deste contexto, o que seria necessário que os jornalistas “desaprendessem”?
BR: Desaprender significa perceber que o jornalismo não pode estar relacionado a uma mídia, e aí resgatar os conceitos sobre a comunicação, sobre o que é informação, o que é jornalismo. Aqueles assuntos que você estuda em Teoria da Comunicação I e II e que acaba deixando de lado muitas vezes. Para mim, a criatividade do futuro está ligada a este entendimento, ao retorno ao Universo da Comunicação.
JILÓ: O jornalista deve aproveitar as possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias e adaptar-se a elas?
BR: Mais uma vez, os jornalistas estão caindo na mesma armadilha de cinquenta anos atrás, que é conectar a atividade jornalística à técnica de forma exagerada. Deve-se pôr a tecnologia de um lado e o domínio da técnica do outro. O jornalismo é mais que isso. Se o jornalismo on line for encarado por dominar técnicas de áudio, vídeo, etc., o que vai acabar acontecendo é o que muitos hoje já reclamam: vocês vão receber um salário para lidar com todos estes formatos de informação, quando deveriam receber um salário quatro vezes maior.
“Ao estudante de jornalismo geralmente não é ensinado que ele deve ter opinião”
BR: A palavra chave é opinião. Acho que o jornalista tem que aprender que ele não pode ser mais um instrumento de alguma coisa. Ele pensa, tem uma opinião sobre o fato jornalístico. Ao estudante de jornalismo geralmente não é ensinado que ele deve ter opinião. Alguns blogs de jornalistas que existem hoje são patrocinados porque existe opinião. Isso não é ensinado nas faculdades, mas seria necessário que se ensinasse ao estudante que ele deve ter opinião antes de fazer um blog, para que este blog não fique repetindo informações que qualquer pessoa encontrar em qualquer outro blog. È a sua opinião que vai fazer com que eu me registre, leia e até pague para acessar o seu blog.
JILÓ: Que conselho você daria aos futuros jornalistas?
BR: Acho importante que eles compreendam, a princípio, que o jornalismo não é jornal ou redação. Hoje todo mundo sabe que jornal paga muitíssimo mal, e atualmente temos jornalismo na web, que não se resume às versões on line dos jornais ou revistas, mas perceber que você pode lidar com conteúdo em sites de entretenimento, empresas ou comércio eletrônico. Tudo isto é atividade jornalística. Eles devem estar atentos também para outras mídias como a televisão (o que não significa atuar somente como apresentador) e para a comunicação empresarial, que também oferece boas oportunidades.
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