quarta-feira, 10 de junho de 2009

O FUTURO DO JORNALISMO EM DISCUSSÃO

Como pensar o jornalismo após o surgimento da web? André Deak, Luciana Moherdaui e Caio Caprioli expões suas opiniões ao blog Jiló Campus:

"A credibilidade não está ligada ao formato, mas ao método de apuração, às regras seguidas pelos profissionais, aos anos de trabalho sério desenvolvido, por quem quer que seja, jornalista ou não". André Deak

Jornalista há 10 anos, na sua maioria em jornaLismo online, vencedor do prêmio Vladimir Herzog, na categoria internet em 2008, André Deak trabalhou na Radiobrás onde foi editor executivo multimídia da Agência Brasil. Foi repórter das revistas Rolling Stones, Carta Capital, Fórum entre outras. Também escreveu reportagens para vários países da Europa e América do Sul. Participou como co-organizador do livro Vozes da Democracia – do Coletivo Intervozes – , que conta as experiências vitoriosas da comunicação durante a redemocratização brasileira. Atualmente está envolvido com projetos experimentais com hipervídeo, multilinguagem, documentários para a internet e o seu blog.

Jiló - O volume de conteúdos gerados e sugeridos por usuários é cada vez maior e mais utilizado como pauta ou mesmo notícia. A velocidade exigida pela web compromete a apuração e a qualidade do que é veiculado? O que é necessário para uma produção realmente eficaz de notícias nesse meio?

AD - Veja bem: não é a web que exige velocidade, mas o mercado. As agências de tempo real online surgem primeiro voltadas para o mercado financeiro, e depois estendem suas notícias para todas as editorias. A velocidade leva a mais erros, sem dúvida - em qualquer situação, aliás, não? Mas o que sai comprometido, creio, é o contexto, o entendimento do leitor. Não acho que notícias em velocidade sirvam para produzir informação de qualidade, mas sobretudo desinformação.

Jiló - Você defende o uso de recursos como o jornalismo
video-game. Esse tipo de jornalismo atrairia mais a atenção de um público mais jovem que normalmente não se interessa em informação jornalística? Quanto ao público mais conservador, eles dariam credibilidade a notícias nesse formato?
AD - O formato interativo - tão completo quanto um video-game - não serve para notícias, apenas para reportagens. É um formato de grande reportagem, que necessita mais tempo para ser trabalhado. Já existem empresas que trabalham com isso, como a
Serious Games, que faz games jornalísticos. A credibilidade não está ligada ao formato, mas ao método de apuração, às regras seguidas pelos profissionais, aos anos de trabalho sério desenvolvido, por quem quer que seja, jornalista ou não.


“...não se pode afirmar categoricamente que o leitor irá substituir o jornalista. Há competências específicas à profissão que um cidadão comum, em geral, não tem acesso como, por exemplo, às fontes.” Luciana Moherdaui

Luciana Moherdaui é mestra pela FACOM/UFBA e doutora em Processos de Criação nas Mídias, pela PUC/SP. Com uma vasta participação em pesquisas relacionadas à web, como os grupos NetArt e Rede, da Bolsa UOL de pesquisa em 2008 entre outras, é também autora do primeiro guia estilo JOL publicado no Brasil além de colaborar com criação do site IG e Último Segundo. Pelo seu trabalho no Diários Paulistanos na Web, venceu o II Prêmio de Mídia do Estadão.

Jiló -Com o surgimento da internet muitos vislumbraram um meio que substituiria a imprensa tradicional e levaria algumas mídias à extinção, como o jornal impresso, por exemplo. Quase 20 anos depois não houve a evolução esperada. O que faltou? Coragem para mudar, aceitar o novo?
LM - Na realidade, várias mudanças ocorreram, mas não desse ponto de vista da substituição de uma mídia por causa de outra. A mudança do uso HTML para o XML, nos anos 2000, o aumento do acesso à banda larga (ainda que não seja a velocidade ideal) e o barateamento dos computadores (mesmo com o gap digital), levaram a uma reconfiguração da cultura da página (estática) para a cultura de dados (dinâmica). Isso modifica a recepção das informações e de algum modo a produção também. O que não há ainda como mudar é o fato de o jornalismo operar a partir de convenções estruturais, com hierarquia, diagramação de páginas e distribuição de formatos de mídias que se confunde com a noção de convergência. Não há, em minha opinião, como reformar a rotina de trabalho, que segue uma lógica cronológica, e também não se pode afirmar categoricamente que o leitor irá substituir o jornalista. Há competências específicas à profissão que um cidadão comum, em geral, não tem acesso como, por exemplo, às fontes.

Jiló - Com relação ao jornalismo digital, Pollyana Ferrari declarou em uma entrevista ao Sublide.com que a imprensa precisa esquecer a tinta, o papel, a impressão.
LM - Na realidade, o que precisa ser compreendido é que estamos, de fato, em uma cultura de rede baseada em dados. Essa cultura mudou o paradigma do modelo de comunicação do século 20 – produção, transmissão e recepção. Novos termos foram incorporados a esse padrão: incorporar, anotar, comentar, responder, agregar, cortar compartilhar, upload e download. Então, não se trata de uma defesa de diversos formatos ou de esquecer tinta, papel e impressão, mas de olhar para esse ambiente novo e elaborar um formato narrativo que não seja mera repetição de formas existentes. Pollyana está correta quando afirma que é preciso esquecer tinta, papel e impressão. Exemplos disso não faltam. Grandes jornais deixaram de imprimir para se dedicar a projetos exclusivamente voltados à web. Em parte, por causa da crise econômica e, em parte, por causa da dinâmica de consumo de informação desenhada pela rede.


“...você só consegue criar o seu estilo, ter o seu ritmo, se você lê matérias pela internet. De sites de internet, não de jornais impressos que vão para a internet.” Caio Henrique Caprioli



Caio Henrique Caprioli está cursando o último ano de jornalismo na Universidade Municipal de São Caetano do Sul. É colunista do IG jovem além de fazer matérias freelancer para sites. Como ele mesmo diz “Foi um dos engolidos pelo monstro da blogosfera”. Apesar do pouco tempo de experiência, tem uma opinião madura sobre o jornalismo digital.

Jiló - Muitas universidades agora é que estão se preocupando em incluir o jornalismo digital em suas grades. Elas estão atrasadas quanto ao conteúdo digital na formação do novo profissional em jornalismo?

CC - Sim, mas acredito que todos estamos. As faculdades formam o profissional para escrever para o rádio, TV e impresso. Na internet, você tem que aprender sozinho. Por mais dicas que um professor dá, você só consegue criar o seu estilo, ter o seu ritmo, se você lê matérias pela internet. De sites de internet, não de jornais impressos que vão para a internet.

Jiló – Quanto aos conteúdos disponibilizado por usuários e que acaba gerando pauta e por sua vez, notícia. A dinâmica da web compromete a apuração e a qualidade da notícia?
CP - Como jornalista de internet, percebo que, muitas vezes, a credibilidade é comprometida. A informação chega de uma forma rápida e deve ser transmitida rapidamente também, por isso, passam-se alguns erros. A questão do furo de reportagem prevalece, então muitos veículos acabam passando a informação sem checá-la, o que causa a barriga. É tudo uma questão de verificar, ligar, ir atrás. Assim, como no jornal impresso, é possível ter uma maior credibilidade. Vai de veículo para veículo.

Reportagem: CristinaVieira (6°período) & Manoela Costa (5° período)
Av2 - Jornalismo Digital - Professor Marcio Gonçalves
Imagens: Pela ordem: Renato Targa, masteremjornalismo.org.br, IG.

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