sábado, 30 de maio de 2009

O PROTAGONISMO DAS NOVAS TECNOLOGIAS: JORNALISMO DIGITAL



Texto: Fernanda Resende – Jornalismo Digital



Elis Monteiro: jornalista, colunista e especialista em tecnologia e telecomunicações. Formada pela Universidade Federal Fluminense, Elis hoje é repórter e colunista do Caderno Digital do Jornal O Globo e do site RJNET e foi vencedora do 1º prêmio Unisys de Jornalismo Tecnológico. A Jornalista fala do amor pela profissão, do jornalismo participativo, das redes sociais, das mudanças nos veículos de comunicação e da vida digital que se incorporou ao dia a dia das pessoas tornando-se irreversível.


JILÓ: Como surgiu o interesse em fazer jornalismo? E a especialização em tecnologia?


ELIS MONTEIRO: Escrevi meu primeiro texto com 7 anos, fazia poesias e contos. Como meu pai era jornalista no interior (foi um dos fundadores do Jornal A Voz do Povo, de Bom Jesus do Itabapoana) a família esperava que um de seus filhos acabasse sendo jornalista como ele. Sobrou pra mim. Meus dois irmãos seguiram caminhos diferentes – um é engenheiro, o outro é dentista. E eu nunca pensei em fazer qualquer outra coisa que não fosse jornalismo. Como morava no interior (Bom Jesus), tive que me mudar para a “cidade grande” (no caso, Niterói) com 18 anos, depois de ter sido aprovada em jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Foi o único vestibular que prestei. Quando cheguei à universidade é que fui conhecer o primeiro computador e me apaixonei logo de cara. Era um 386, bem velhinho e surrado. Acabei me interessando por informática e fiz uma prova para a monitoria da disciplina Planejamento Visual Gráfico para Mídia Impressa. Foi aí que a informática entrou de vez na minha vida. Quando estava no sexto período da faculdade, entrei como estagiária no JB Online e, depois, fui para o Caderno de Informática do Jornal do Brasil, de onde saí para vir para o Globo, em 2001, convidada pela Cora Rónai, minha ex-editora.



“Os maiores inimigos dos jornais têm sido os próprios jornais



JILÓ: Um estudo realizado pela TNS Global constatou que a população mundial gasta em média 30% do tempo navegando na internet. Você acha que isso pode provocar aumento da capacidade intelectual do indivíduo e ao mesmo tempo um isolamento?


E.M: A internet pode ampliar os horizontes de qualquer um, desde que usada com sabedoria. Não sou a favor do uso 24 horas por dia, mas ela é mais um meio de informação hoje, como a TV, o rádio e os jornais e revistas. Quanto mais a gente se informa, mais a gente aprende.


JILÓ: A tecnologia permitiu uma grande interação entre os usuários. Com referência ao jornalismo participativo que tem conseguido espaço nos veículos de comunicação e leitores cada vez mais atuantes, o jornalista fica acomodado por receber relatórios prontos?


E.M: O jornalismo participativo é um caminho sem volta. É muito produtivo receber as críticas (e os elogios, claro, mas estes aparecem muito pouco) dos leitores. Isso já vinha acontecendo desde que o email se tornou a principal forma de comunicação. Agora, com as áreas de comentários dos jornais online, podemos sacar quais são as principais demandas dos nossos leitores. E é sempre bom saber que alguém está lendo e concordando ou discordando de um assunto abordado por você.


JILÓ: Com as redes sociais, existe a perda da identidade pessoal? Quais os prós e contras dessas redes?


E.M: Muito pelo contrário. Acho que as pessoas acabam interagindo mais, abrindo mais seu leque de amizades. Acho que ficou para trás aquela ideia de que as pessoas só queriam “acumular amigos numa lista”. As redes servem para socializar as pessoas, aproximá-las mais. Mas é claro que, assim como na “vida real”, elas também trazem perigos. Costumo dizer que onde há gente há confusão. E as redes são feitas de gente, antes de qualquer coisa.


JILÓ: Quais a mudanças que você está percebendo nos jornais para acompanhar essa revolução tecnológica? O maior inimigo dos jornais tem sido essas novas tecnologias?


E.M: Os maiores inimigos dos jornais têm sido os próprios jornais, ao demorarem demais a se adequar às novas linguagens e às novas mídias. O jornalismo online não é um competidor do papel, ele é uma extensão. A partir do momento em que os editores entendem isso, fica mais fácil fazer jornalismo de qualidade, sem perder tempo analisando a concorrência virtual.



“As pessoas procuram muita bobagem na internet"



JILÓ: No Brasil tem alguma pesquisa que consiga medir o que mais as pessoas procuram na Internet?
E.M:
Olha, sendo muito sincera: as pessoas procuram muita bobagem na internet. O Google tem um ranking publicado em seu website de informações (about Google) onde é possível saber as palavras mais buscadas. Elas estão sempre relacionadas a sexo ou celebridades, redes sociais e coisa e tal. Mas o brasileiro também usa muito a internet para se informar, o que é muito bom.



JILÓ: Quais os sites essenciais para estudantes de Jornalismo? Quantos sites de notícia você acessa diariamente? Como está sendo visto o Twitter para os profissionais de Jornalismo?


E.M: Não acompanho muitos sites de jornalismo não. Vez ou outra leio o Observatório da Imprensa, mas o dia a dia acaba sendo corrido demais e a gente nunca tem tempo. Eu tenho usado o Twitter – meu blog do Globo Online tem uma conta e eu tenho uma pessoal. Mas também aqui pesa a coisa do tempo – a redação é uma correria danada, não sobra muito tempo. Mas acho que o jornalismo precisa estar de olho nestas redes e nas novas possibilidades que elas representam.


JILÓ: Na internet as forças estão dispersas, como fica a questão da vigilância?


E.M: A vigilância precisa ser constante, tanto por parte dos pais quanto por parte das autoridades. Infelizmente, a rede ainda é usada para atividades criminosas e muitos pais não têm consciência dos riscos que ela pode trazer. Ao mesmo tempo, os provedores colaboram muito pouco para diminuir a incidência dos crimes que usam a internet como meio .


JILÓ: Como se tornar um jornalista da web? Esses profissionais estão tirando a soberania da mídia impressa?


E.M: Sim, a mídia impressa está sofrendo muito com a internet. Mas é um momento de aprendizado para todos nós. Eu trabalhei em jornal online e estou há mais de dez anos em jornal de papel. Jornalismo é jornalismo, seja no suporte que for. Mas a internet acaba tirando a soberania do papel porque, assim como a TV, é mais instantânea e mais interativa.


JILÓ: O futuro é a vida digital? Deixe uma mensagem para os estudantes e novos profissionais de comunicação.


E.M: Tenham metas. Especializem-se. Queiram mais. Nunca desistam. Corram MUITO atrás. Estudem. Estudem. Estudem.

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